SBBNews ENTREVISTA: Dra. Edvane Borges (UFPE e FIOCRUZ-PE) fala sobre a técnica de irradiação do inseto estéril para Aedes aegypti

Da esquerda para a direita: Sloana Lemos (doutoranda), Maria Alice Varjal (coordenadora do projeto) e Edvane Borges

A dengue foi registrada pela primeira vez no Brasil no século 19, sendo um problema de saúde pública, presente em quase 100% do país. Nos primeiros meses de 2016, foi registrado aumento superior a 40 % dos casos de dengue em relação a 2015. Duas novas doenças transmitidas pelo vetor Aedes aegypti são a Chikungunya e a Zika, registradas respectivamente em 2014 e 2015. Apesar dessas doenças possuírem o vetor em comum, os vírus são distintos. A dengue tem cinco tipos virais identificados DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 e DEN-5, sendo já registrada a presença dos quatro primeiros no Brasil. Na forma mais grave da doença, a dengue hemorrágica pode levar a óbito. O vírus causador da chikungunya é o CHIKV vírus e da zika, o ZIKV vírus. O último pode ter causado a epidemia de microcefalia, bem como do aumento na incidência da Síndrome de Guillain-Barré. Apesar de serem doenças distintas com sinais clínicos comuns, seu combate passa pelo controle do vetor: o mosquito Aedes aegypti. Uma das técnicas possíveis para o controle do Aedes aegypti é a técnica de irradiação do mosquito estéril (Sterile Insect Tecnique-SIT).

Para entender as vantagens dessa técnica, a SBBNews entrevistou a Dra. Edvane Borges da Silva, membro titular da SBBN e integrante do Grupo de Estudos em Radioproteção e Radioecologia (GERAR) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Centro de Pesquisa Ageu Magalhães-FIOCRUZ-PE. A Dra. Edvane tem experiência em pesquisas com irradiação de alimentos e de extratos vegetais, monitoração ambiental, biodosimetria e esterilização de Aedes aegypti.

SBBNews: Em que consiste o trabalho para controle do Aedes aegypti?

Dra. Edvane: Consiste em expor pupas machos do mosquito Aedes aegypti à radiação ionizante, com o objetivo de esterilização, para que, após atingir a fase adulta/alada, sejam liberados no campo, para competir com machos selvagens por fêmeas também selvagens. Como os machos irradiados estarão esterilizados, mas competitivos para acasalamento, espera-se diminuir a densidade populacional do mosquito, já que o esperma depositado nas fêmeas será inviável.

SBBNews:  Quais são os riscos e benefícios?

Dra. Edvane: Não existem, inicialmente, riscos envolvidos para a população, uma vez que: o mosquito, ao ser irradiado, não se torna radioativo e caso ocorra alguma mutação no macho irradiado, não haveria possibilidade dessa mutação afetar o ser humano, uma vez que quem pica é a fêmea e não o macho. Além disso, como o macho estará esterilizado, ao copular com a fêmea, não passará nenhuma carga genética modificada para seus descendentes. Os machos terão um fim em si mesmo, é um material biológico que tem um prazo de validade de, no máximo, 25 dias. Quanto aos benefícios, a técnica é ambientalmente limpa, espécie específica, não resultando em toxicidade ao meio, além de proporcionar a diminuição da densidade populacional do Aedes aegypti o que, aliada a outras técnicas, pode contribuir para a eliminação do mosquito no Brasil.

SBBNews: Quais são os resultados já obtidos?

Dra. Edvane: Atualmente, em condições controladas de campo, foi possível determinar a dose absorvida de 50 Gy como necessária para a esterilidade do mosquito sem comprometimento de seu desempenho durante a competição com os machos selvagens. Também foi possível determinar qual a melhor proporção de machos irradiados para cada macho selvagem (10:1) que deve ser considerada durante os experimentos, proporção essa que permitiu uma obtenção de mais 70% de inviabilidade dos ovos depositados pelas fêmeas. Para condições reais de campo, ainda não conseguimos observar resultados conclusivos sobre a efetividade da técnica em função do pequeno número de liberações na Ilha de Fernando de Noronha, onde realizamos o estudo-piloto e a interferência do período chuvoso que aumenta significativamente a densidade populacional do mosquito. Espera-se obter resultados da efetividade da técnica até junho/2016.

SBBNews: Como a SBBN contribui para o seu trabalho científico?

Dra. Edvane: Como sociedade, a SBBN contribui com a divulgação não só deste, mas também de outros trabalhos relacionados à área nuclear, facilitando assim, a cooperação com outras instituições e pesquisadores.

SBBNews: Como você contribui para a SBBN como sociedade científica?

Dra. Edvane: A Técnica do Inseto Estéril (SIT, na sigla em Inglês) representa mais uma aplicação da radiação ionizante para resolução de problemas relacionados à Saúde, mais especificamente, ao controle de insetos vetores de doenças de grande importância para a Saúde Pública, como a dengue, chikungunya e zika.

No XI Congresso da SBBN, a Dra. Edvane Borges participará do Simpósio “Sustainable processes for irradiation, sterilization and release of mosquitoes in the environmental”, coordenado pela Prof. Claudia Lage, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF-UFRJ), com as conferências Técnica do inseto estéril: desafios e cenário internacional” por Prof. Anna Lucia Villavicencio (IPEN/CNEN/SP) e Projeto Aedes Transgênico” por Prof. Margareth de Lara Capurro-Guimarães, do ICB-USP).

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