SBBNews entrevista: Edson Ramos de Andrade

Durante a XII Reunião Regional da FeSBE a ser realizada na Universidade Federal de Rio Grande (FURG), o Prof. Edson Ramos de Andrade irá proferir no dia 1 de junho a conferência “Radiobiologia e interfaces com outras ciências: modelagem de riscos ambientais por meio de simulações”. Ainda nesse evento, ministrará aula no curso “Biossegurança e Radioproteção em Laboratórios de Pesquisas“, nos dias 31 de maio e 1 e 2 de junho.

O Prof. Edson é membro titular da SBBN. Possui graduação em Física (UFRJ) e em Gestão Ambiental (U. Estácio de Sá, RJ), mestrado em Engenharia Nuclear (COPPE/UFRJ), doutorado em Bioquímica Toxicológica (UFSM) e Universidad de León (Espanha) e pós-doutorado em Radioecologia (IRD/CNEN). Oficial Pesquisador do Centro Tecnológico do Exército (CTEx) na reserva, atualmente é professor dos programas de pós-graduação do Instituto Militar de Engenharia (IME) e do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN). Desde 2010, é Inspetor OSI (On-Site Inspection) junto à Organização do Tratado de Banimento de Testes Nucleares (CTBTO/ONU) com sede em Viena.

SBBNews: Quais os parâmetros mais importantes para considerar em simulações de riscos ao meio ambiente, levando em consideração eventos com fenômenos naturais que possam provocar acidentes nucleares?

PROF. EDSON: Um exemplo da conjunção de fenômenos naturais e cenários nucleares foi o evento que atingiu a usina nuclear de Fukushima, no Japão em 2011. Recentes trabalhos levam em consideração a degradação de aspectos sociais derivados da contaminação ambiental (Fukasawa M., 2017), estudos sobre contaminação de alimentos como premissa básica de ocupação de uma zona habitável (Merz S., 2015), checagem de background e relações com reocupação por humanos (Tsubokura M., 2017), potenciais efeitos da retenção do Cs-137 em ecossistemas e efeitos sobre cadeias ecológicas (Koarashi J., 2016) e observações sobre mutações em elementos de cadeias ecológicas (Hiyama A., 2013; Hayama S, 2013; Itoh M, 2018; Horiguchi T., 2016), dentre outros. Assim, do ponto de vista radioecológico, eleger parâmetros de relevância para a elaboração de protocolos de resposta a uma emergência desta magnitude é um problema demasiado complexo, embora se possam propor métodos que sejam atenuadores, como, por exemplo, os que considerem modelagem de consequências sobre espécies, como se propõe com a criação do software ERICA (Sotiropoulou M., 2016). As implicações que a exclusão de um parâmetro de avaliação ambiental, inadequadamente estimado, podem agregar um potencial devastador.

A determinação dos parâmetros mais importantes para se considerar em simulações de riscos ao meio ambiente, independentemente da origem do problema, deveria incluir a definição mais realista do ecossistema e das populações humanas e suas interações entre si e com outras espécies. Em uma primeira vista, isto pode parecer difícil, mas, considerando que se podem convergir capacidades independentes para um objetivo comum (Metodologia de Convergência), se poderia, por exemplo, utilizar resultados da plataforma computacional ERICA em convergência com uma modelagem de risco para a população potencialmente afetada utilizando as equações do comitê “Biological Effects of Ionizing Radiation V e VII” (BEIR V e VII). Desta forma, seria possível estudar a dinâmica populacional do conjunto, o que poderia reduzir o número de parâmetros e facilitar a escolha dos mais relevantes para um cenário específico.

SBBNews: Nos relatos de acidentes nucleares, há casos de pessoas que sofreram efeitos menos graves do que outras para uma mesma quantidade/qualidade de irradiação. O que ocorre? Uma característica genética do indivíduo, uma resposta adaptativa, ou algo dependente do estado nutricional?

PROF. EDSON: A avaliação da dose recebida por um indivíduo em um cenário de exposição ambiental de corpo inteiro, como o que normalmente ocorre em acidentes nucleares e radiológicos, é influenciada de maneira substancial pela tecnologia disponível na época para esta medição e interpretação. Considerando que os efeitos biológicos são tratados a partir da estimativa da dose e de como esta grandeza foi definida, seu diagnóstico pode ser comprometido pela ausência ou precariedade dos recursos tecnológicos disponíveis no momento do evento. Por essa razão, relatos de acidentes anteriores aos bombardeiros sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial não foram interpretados da mesma forma como o seriam hoje.

Para um evento único e uma potencial divergência sobre os efeitos esperados sobre indivíduos submetidos ao mesmo cenário, pode-se esperar que diferentes respostas sejam percebidas. Variáveis como tipo de radiação, tipo de exposição (se aguda ou crônica, se parcial ou de corpo inteiro), sexo, idade, hábitos (como fumar), ocorrência natural da doença na região e fatores de propensão genética para o desenvolvimento da morbidade em estudo, dentre outros possíveis, são fundamentais para o cálculo do risco de desenvolvimento da moléstia.

Por último, considerando como variável o estado nutricional individual, é possível que um indivíduo em melhores condições nutricionais possa responder de maneira mais eficiente ao insulto provocado pela radiação. Contudo, embora se possa esperar algum efeito radiomodificador positivo (proteção) pela ingestão continuada de alguns alimentos ricos em antioxidantes, não se verificam na literatura resultados contundentes que deem suporte a afirmações definitivas sobre o poder de radioproteção por via nutricional. Assim, minha avaliação sobre a possível ocorrência de diferentes respostas biológicas individuais para uma mesma exposição, é que o tema deva ser tomado da forma mais individualizada possível, respeitando critérios médicos, para avaliação das variáveis intervenientes consideradas relevantes.

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